Especialistas chamam atenção para cuidados que ajudam a melhorar a qualidade de vida de pacientes
Por Paulo Maia
No último 21 de março, foi comemorado o Dia Mundial da Síndrome de Down, data em que ocorrem trabalhos de conscientização, que se estendem até o fim do mês. Dentre eles, está o alerta das cientistas Bruna Lavinas e Flávia Maia sobre a realização de tratamento odontológico adequado para pacientes com essa alteração genética, mais conhecida no meio científico como Trissomia do Cromossomo 21, ou apenas T21.
Bruna e Flávia – professoras do Instituto de Saúde de Nova Friburgo (ISNF), unidade de ensino superior da Universidade Fluminense (UFF) no município – fazem parte do seleto time de apenas 776 especialistas com formação e experiência no assunto em todo o Brasil. Elas chamam atenção para os cuidados específicos com este grupo de pacientes na área de Odontologia.
Segundo Bruna Lavinas, a Síndrome de Down é a alteração genética mais comum entre os recém-nascidos. No entanto, ainda não existe, no Brasil, uma estatística específica sobre o número de casos, embora uma estimativa do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2010, com base na relação de 1 para cada 700 nascimentos, tenha apurado que cerca de 300 mil brasileiros teriam a T21.
“O paciente com T21 apresenta uma grande diversidade de manifestações, desde o comprometimento intelectual a alterações físicas, que impactam diretamente a sucção, mastigação, deglutição, fonação e respiração”, esclarece a cientista, salientando a importância de um acompanhamento profissional adequado.
Efeitos associados
A especialista esclarece ainda que os pacientes com Síndrome de Down podem apresentar diversas alterações craniofacias, o que pode provocar o surgimento de infecções respiratórias crônicas, em função da dificuldade de respiração bucal, além de microbroncoaspiração de alimentos mal triturados, que é o direcionamento dos alimentos para o pulmão.
“A maloclusão não só afeta funções como mastigação e fala, mas também pode ter um impacto negativo na qualidade de vida. Somado a isso, há uma alta prevalência de cárie e doença periodontal (na gengiva) neste indivíduo, sendo essencial uma consulta odontológica precoce para que possamos orientar e prevenir desde cedo”, sugere.
Tratamento com fonoaudiólogos
Outro profissional que pode ajudar o paciente na melhora da qualidade de vida é o fonoaudiólogo. De acordo com Marcio Moreira, professor do Curso de Graduação em Fonoaudiologia do ISNF especializado em motricidade orofacial, é indispensável que o paciente com Síndrome de Down seja acompanhado por um especialista.
“Desenvolvemos um trabalho de readequação da musculatura oral do paciente. É preciso pensar também na linguagem, na fala e na deglutição, que são aspectos fundamentais para que o paciente tenha qualidade de vida”, ressaltou o professor, lembrando que, no dia 4 de abril, o ISNF inaugura uma nova Clínica de Fonoaudiologia, com a disponibilização de consultas e exames gratuitos para a população.
Centro especializado
Segundo a professora Flávia Maia, o instituto atende, mensalmente, cerca de 160 pessoas com deficiência. Desse total, em média, são atendidos oito pacientes com Síndrome de Down por semana. No entanto, esse número pode aumentar de modo considerável. Recentemente, o Instituto de Saúde de Nova Friburgo foi contemplado com um edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
O projeto – em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) – prevê a criação, no ISNF, de um Centro de Ortopedia e Ortodontia para pacientes odontológicos com Síndrome de Down. Porém, para a concretização do projeto, o edital prevê um investimento de R$ 1 milhão, verba que ainda não foi liberada pela Faperj para as pesquisadoras da UFF de Friburgo.