Para amenizar o estresse cotidiano, pesquisadores da UFF praticam esporte e meditação
Por Paulo Maia

No dia 21 de agosto de 2022, o céu amanheceu nublado na Zona Sul do Rio de Janeiro. Poderia ser um domingo comum e preguiçoso para muita gente, mas não para um professor de Embriologia e Histofisiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), que já se preparava para a volta às aulas, que ocorreria na manhã seguinte.
Leonardo Mendonça acordou às 5h30min da manhã, pegou o fusquinha 1970, de faróis amarelos, e partiu para Copacabana. Lá fazia 14 graus Celsius de mínima, bem mais que câmaras frias de laboratórios. Acostumado a jalecos brancos, vestiu um neoprene preto e azul, calçou um pé de pato verde e se jogou no mar. Queria aproveitar as ondas e se despedir das férias de meio de ano da UFF.
“Com a pandemia, decidi buscar uma forma de relaxar. Para mim, uma das melhores sensações do mundo é estar dentro do mar, com a brisa batendo, as gotículas que sobem com as ondas e molham o rosto, e os raios solares refletindo no mar. Essa é a poesia do surfe pra mim. Sem contar as frações de segundos em que você fica dentro de um tubo, numa boa onda. Não tem nada melhor”, descreve Leonardo, surfista desde a adolescência.
O esporte foi a maneira que o cientista encontrou para aliviar o estresse da rotina como professor dos três cursos de graduação (Biomedicina, Fonoaudiologia e Odontologia) do Instituto de Saúde de Nova Friburgo (ISNF), unidade da UFF no município. E ele já percebeu que houve mudanças no comportamento.

“Estava estressado. Então, resolvi voltar a surfar. Meu humor mudou completamente. Agora pego onda aos sábados e domingos e, quando a rotina permite, surfo um dia na semana antes de subir a serra”, conta.
Efeitos psicológicos
De acordo com Erick Conde, psicólogo da UFF de Campos dos Goytacazes, não foi à toa que o professor Leonardo Mendonça sentiu melhora no humor. Ele explica que o exercício estimula a produção de substâncias que promovem o relaxamento e ajudam a modular estados emocionais.
“Os efeitos psicológicos estão associados a efeitos físicos no cérebro. Evidências científicas sugerem que tais atividades podem ajudar o desenvolvimento cognitivo, a coordenação motora e a ampliação de competências sociais e laços afetivos, especialmente entre as pessoas que praticam as atividades em conjunto”, esclarece.

Foto: @zerodoiszoom
Além de exercícios físicos, o psicólogo sugere outras atividades para aliviar o estresse cotidiano.
“A meditação, a dança e outras práticas corporais, como a Yoga, são exemplos. Há tantas evidências científicas demonstrando seus efeitos na regulação e melhoria de sintomas de ansiedade e depressão que essas atividades têm sido ofertadas pelo Sistema Único de Saúde como Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, chamadas de PICS”, revela o especialista.
Movimento e meditação
Por falar em meditação, Wantuil Araújo Filho, professor e cientista do curso de Odontologia da UFF, descobriu nela uma forma de relaxamento. Ele já contabiliza os efeitos da prática regular.
“A atividade que oferecemos no campus é o Mindfulness Funcional. Ela tem efeito comprovado sobre a saúde física, mental e espiritual. Há milhares de trabalhos científicos que comprovam. Essa atividade me faz um profissional melhor no aspecto de autoconhecimento e consciência do momento presente, além de favorecer meu equilíbrio emocional e aumentar minha resiliência”, conta o professor, que volta a promover encontros de meditação no ISNF a partir do dia 12 de setembro, às 18h, na sala 8.

Já a professora e cientista Rebeca Azevedo, também de Odontologia, participa do Projeto Corpo Presente que, como explica, “tem sua essência pautada no movimento do corpo como uma prática de escuta e reconhecimento de si própria, que alia trabalhos de alongamento e fortalecimento muscular; respiração; danças populares, contemporâneas e clássicas. Inclui também escrita, fotografias, performance, rodas culturais, desenho e o que mais puder ser criado e compartilhado a partir da escuta do seu próprio corpo”.
A docente iniciou no projeto em abril de 2020. Ela narra os efeitos das atividades na própria vida.

“Eu não sinto que esta atividade me provoca exatamente um relaxamento, mas me permite sair da gira da vida profissional e acadêmica, que é essencialmente cerebral e parece não findar, como uma roda em que entramos. Se não fizermos um esforço ativo, não conseguimos sair, para nos conectarmos ao nosso corpo e a tudo aquilo que seu movimento (e pausas também) é capaz de, internamente, criar e materializar”, afirma Rebeca.
Falta de tempo
Para quem não encontra tempo durante a rotina, o psicólogo Erick Conde sugere “adaptar as condições de trabalho para manter a satisfação, o entusiasmo e a mobilidade corporal. Não se deve deixar, reforça, que a rotina laboral seja produtora de adoecimento. Deve-se sempre reservar tempo suficiente para cuidar do corpo e da mente”.
Ele recomenda também a psicoterapia como “uma excelente aliada no processo terapêutico, seja para diminuição de sintomas de ansiedade ou para desenvolvimento pessoal. Em casos mais graves, também pode ser indicada uma abordagem medicamentosa assistida por psiquiatras. Mas além destes tratamentos, existem muitas abordagens alternativas e coadjuvantes, como as práticas integrativas e complementares em saúde”, pondera.

Desde o último dia 26 de agosto, alunos dos três cursos de graduação do ISNF passaram a ter acesso a acompanhamento psicológico. O atendimento gratuito ocorre às sextas-feiras, das 16h às 17h30min, no auditório da unidade.
O serviço é uma iniciativa do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saúde Mental (Nupesm), coordenado pelas professoras e cientistas Beatriz Almeida, do curso de Fonoaudiologia do ISNF, e Bárbara Breder, de Psicologia da UFF Campos.
Leonardo Mendonça, que também ‘surfa nas ondas’ das pesquisas científicas, parece já querer fazer experiências dentro de casa.
“Estou tentando ensinar meu filho a surfar, mas ele ainda tem um pouco de receio das ondas. Com o tempo, se ele quiser, vamos surfar juntos. Só não sei se vai ter disposição de entrar no mar comigo às 5h30min da manhã (risos)”.