Pesquisador da USP afirma que inovar vai além de ter boas ideias e alerta para a importância do trabalho em equipe

Engana-se quem acredita que inovar resume-se a propôr soluções geniais ou vincula melhorias em processos e produtos à utilização de equipamentos. É o que garante Donizetti Louro, pesquisador do Grupo de Automação Elétrica e Sistemas de Tecnologia da Informação na área da Saúde da Universidade de São Paulo (Gaesi/Saúde/USP). Na última quarta-feira (4/4), o especialista ministrou a palestra “Inteligência Artificial na Saúde – Desafios e Oportunidades para Inovação” no seminário que inaugurou a Agência de Inovação do Instituto de Saúde de Nova Friburgo (AGIR-NF/ISNF).

Na ocasião, cerca de 100 pessoas, entre alunos e professores, participaram do evento, que contou ainda com a presença do professor Ricardo Leal, diretor da AGIR, e de Marcelo Verly, secretário de ciência, tecnologia, inovação e educação profissionalizante e superior de Nova Friburgo, e de representantes de autoridades públicas estaduais e municipais.

 

 

“Inovar significa propôr situações planejadas em que o processo seja melhorado, bem interpretado e aplicado, mas nada disso funciona se não houver uma equipe estruturada e estimulada por trás. A inteligência artificial pressupõe a inteligência humana”, alerta o especialista, que também é coordenador de tecnologia e inovação da Associação da Indústria Médico-odontológica (Abimo) e membro do Comitê de Internet das Coisas (IoT) na área da saúde do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Limites da inovação

Louro, que é matemático de formação, defende a ideia de contingenciamento dos processos criativos, não com a intenção de limitar as iniciativas, mas para direcionar as pesquisas científicas envolvidas em cada caso específico.

“Precisamos pensar que a inovação é contingenciada, não generalizada, porque cada processo tem os próprios parâmetros. Quando a ideia criativa recai sobre um serviço, por exemplo, pode ocorrer uma otimização, mas não se pode afirmar que as novidades que servem para aquele serviço vão servir para outros”, ressalta.

E quando o tema envolve a utilização de máquinas, o especialista surpreende ainda mais. “A inovação não está atrelada necessariamente à utilização de equipamentos, mas sim a metodologias, que podem ser alteradas, e a novas abordagens técnicas adequadas a resoluções de problemas e a aplicações das metodologias. É uma reflexão sobre o planejamento das ações ligadas aos objetivos a que se pretende”.

 

A experiência do usuário

O maior desafio, segundo o pesquisador, é compreender quais as necessidades de quem se utiliza de equipamentos e instrumentos científicos produzidos no Brasil e seus impactos diretos na sociedade, sem deixar de lado a sustentabilidade e a requalificação profissional permanente.

“O projeto terá êxito se estiver em sintonia com as demandas da sociedade. Esse é o maior desafio. É a usabilidade, ou seja, a experiência do usuário – um dos pilares da indústria e Hospital 4.0 – que vai determinar que caminho seguir no planejamento das pesquisas, mas também é conveniente que tudo esteja baseado no conceito de ‘triple-helix’, formado por governo, que libera verba, indústria, que aponta as necessidades, e universidade, que gera pesquisa e desenvolvimento”, sugere ele, lembrando ainda que agências de inovação, ainda que muito bem fundamentadas teoricamente, só alcançam o sucesso se forem constituídas por integrantes com conhecimento específico e sistêmico e por equipes sólidas e dedicadas.

“As pessoas é que fazem a coisa andar, colocam a mão na massa. Elas é que realizam. Então, não há sucesso, não há inovação, não há inteligência artificial que prescinda da inteligência humana”, conclui.

 

 

 

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