Dentre as técnicas, estão as posições do bebê, o estímulo à sucção e até a melhor maneira de evitar que a criança machuque o peito da mãe

Um professor do Instituto de Saúde de Nova Friburgo (ISNF), unidade de ensino superior da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem despertado o interesse dos alunos do curso de graduação em Fonoaudiologia. Durante as aulas práticas de Avaliação e Tratamento das Disfagias Infantis, Márcio José da Silva Moreira usa bonecas de brinquedo, para ensinar técnicas corretas de amamentação. Os treinamentos são parte do Estágio Obrigatório em Fonoaudiologia Hospitalar Infantil.

O objetivo é treinar os estudantes para que eles ensinem às mães a melhor maneira de agir com a criança durante o aleitamento. Para isso, o docente solicita que cada aluno traga uma boneca de casa. Mas ele mesmo disponibiliza exemplares que foram doados por servidores da UFF, para situações de imprevistos, como é o caso dos meninos, que frequentemente pedem que as colegas de turma levem bonecas extras para que eles mesmos participem das práticas.

“Amamentar não é tão simples quanto parece e o fonoaudiólogo precisa ensinar isso para a mãe. Por isso, uso as bonecas com os alunos na faculdade, que simulam muito bem a situação real”, explica Márcio, que há 12 anos trabalha como especialista em disfagia, que é a dificuldade de se alimentar pela boca.

Débora Ferraz, aluna do 8º período de Fonoaudiologia, garante que o uso de bonecas faz toda a diferença no aprendizado.

“A gente aprende muito mais sobre o manejo com o bebê, sobre a estimulação da sucção, as posições da criança no colo. Vai me ajudar quando eu for para o mercado de trabalho”. 

Débora Ferraz e o professor Márcio Moreira durante uma aula prática: mão em formato de ‘C’. Barriga da criança deve estar encostada à da mãe.

Já Marlos Passos, também do 8º período, diz que, dentro da faculdade, não fica envergonhado em usar os modelos de brinquedo.

“Não me incomodo, porque as pessoas sabem que é do curso mesmo. Mas se tivesse que andar com uma boneca na rua, eu traria guardada na mochila. O modelo que eu uso aqui é emprestado de uma amiga”.

O aluno Marlos Passos, do 8º período do Curso de Graduação em Fonoaudiologia, usa uma boneca emprestada de uma colega de turma da UFF.

As técnicas corretas

Durante as aulas com bonecas de brinquedo, o professor explica que o treinamento é destinado, principalmente, ao atendimento de crianças prematuras, que são as que nascem antes de completar 36 semanas e 6 dias de gestação, ou que possuem algum comprometimento que interfira na alimentação, na fala ou na audição.

“Na barriga da mãe, o feto inicia a sucção com 34 semanas, a deglutição com 35 semanas, e a coordenação entre sucção, deglutição e respiração com 37 semanas. Quando nasce prematuro, temos que fazer a correção da idade gestacional, ou seja, simular esses processos fora da barriga, estimulando a musculatura da boca, para a criança aprender a sugar o leite materno”, esclarece.

O profissional conta que, dentro da barriga da gestante, “o pulmão da criança não está totalmente formado”, o que acontece após o nascimento. De acordo com o especialista, algumas crianças nascem no tempo certo de gestação, mas não conseguem mamar no peito normalmente. Estas são chamadas de ‘crianças imaturas’ e também precisam ser atendidas por um fonoaudiólogo.

“É muito importante que a mãe entenda que a criança não abocanha o bico do peito, mas sim a aréola, que recebe do organismo uma lubrificação adequada e protetora para este período de amamentação. Já o bico não tem essa lubrificação”, ensina Márcio, explicando ainda que a mãe não deve colocar os dedos no peito em forma de tesoura, mas sim em formato de ‘C’. “Por isso, é mito que a mulher que tem um bico pequeno, plano ou invertido não possa amamentar, pois o bebê abocanha a aréola e não o bico do seio”, complementa.

Outras posições

Para criança com alterações morfofuncionais, como fenda labiopalatina, a posição correta é sentada na perna da mãe, de frente para o peito, chamada de ‘posição cavaleiro’.

Professor e fonoaudiólogo Márcio mostra a posição adequada para a amamentação de gêmeos, que é chamada de ‘jogador de futebol americano’.

“A posição ‘jogador de futebol americano’ é mais indicada para amamentação de gêmeos, com uma criança embaixo de cada braço”, lembra o professor, alertando que a prática da amamentação cruzada, em que há trocas de mães na hora do aleitamento, é proibida pelo Ministério da Saúde, em função do risco de contaminação por doenças.

Massagens no peito

Para quem tem dúvidas sobre o tempo de aleitamento, Márcio explica que a mulher deve esvaziar um peito de cada vez.

“O leite materno tem dois momentos: um mais líquido e outro mais gorduroso. A criança precisa receber esses dois momentos de maneira alternada. Então, a cada amamentação, que deve ocorrer de 3 em 3h, a mãe deve esvaziar um peito e, depois, esvaziar o outro”, afirma o fonoaudiólogo, sugerindo ainda que a mulher faça massagens no peito, para que o leite não fique empedrado.

Márcio lembra ainda que a participação do pai durante o período de amamentação é fundamental para a mãe e para o bebê, principalmente quando há a necessidade de massagear o peito da mulher. Segundo Moreira, há indicação na literatura médica para colocar a criança para arrotar após a amamentação e isso é prática em neonatologia.

“Além desse trabalho com amamentação, o fonoaudiólogo realiza, dentre outras atividades, teste da orelhinha, em crianças até 2 anos de idade; o exame Bera, que avalia audição profunda em crianças com mais de 2 anos, e o teste da linguinha, que avalia a posição da língua e o tamanho do frênulo lingual, que, se for curto, atrapalha a amamentação. Pena que nem toda instituição de saúde tem um fonoaudiólogo para orientar as mães”, conclui.

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